blogger | gmail | blogs | os autores

Os Ingovernáveis?

No rescaldo das eleições europeias apercebi-me que algumas pessoas tentavam extrapolar estes resultados para as legislativas. Pareceu-me, por exemplo, que Marcelo R. Sousa e António Vitorino, na emissão do 1º canal da RTP, estariam de acordo em que esta situação poderia trazer ao País alguma ingovernabilidade. Coisa parecida terá dito Vital Moreira, conforme se pode ler aqui, de acordo com o que vem escrito no jornal”i”.

Pois a mim não me parece que sejamos ingovernáveis. Um povo que suporta tantas “diabruras”, como as que passo a enumerar, sem se revoltar, e vai às urnas, serenamente, é ingovernável? Não, não é! De todo!

Claro que não serei exaustivo, nem pouco mais ou menos, e quem quiser ajudar estará à vontade para o fazer nos comentários. Aqui vai:

- acumulação da função de deputado com actividades privadas, conforme já foi referenciado diversas vezes e poderá ser lido com clareza neste post de Ana Gomes;


- a mudança da lei dos financiamnetos dos partidos;

- a existência do cargo de Governador Banco de Portugal com o 3º maior salário mundial para esta função;

- o apregoar de que se devem baixar os salários para combater a crise e afinal vai-se a ver e, quem o fez, além de reforma ainda é nomeado para a EDP renováveis;

- viver com leis mal feitas, por conterem erros, segundo a opinião do próprio PGR;

- haver quem defende públicamente que os deputados não deviam trabalhar à sexta feira, para poderem ir "ganhar a vida", pois recebem pouco;

- ter um ex-Presidente da República, que, honestamente e coerentemente com a atitude que sempre apresentou, recusa um milhão de euros de retroactivos porque a lei foi alterada para, eventualmente, permitir o acumular de reformas e salários;


- tapar, com dinheiros públicos ou da CGD, o buraco no BPN que já vai em cerca de 2 500 000 000 € e onde até obras de arte estão desaparecidas, quando, antes, nunca havia dinheiro para nada;

- os casos Isaltinos, Felgueiras, Ferreiras Torres e quejandos;

- um processo judicial, envolvendo menores da Casa Pia, que já vai em perto de 6 anos e ainda não sabemos quando acaba;


- incêndios todos os anos, em que ardem as florestas e o mato volta a crescer, sem serem tomadas decisões que evitem essa desgraça e perda de riqueza nacional;

- uma barragem que fica a meio e custou 20 milhões porque há umas gravuras que quase ninguém lá vai ver;

- o sentido e a graduabilidade da justiça que leva a tribunal a senhora que levou um desodorizante de um supermercado e o homem que roubou duas galinhas mas considera ininputáveis menores de 16 anos que assaltam carros, multibancos, casas, transeuntes, com recurso à agressão e utilização de armas;

- a bonomia e afabilidade com que é tratado Oliveira e Costa quando resolve querer falar, que até diz que gostaria de andar de bicicleta na prisão;

- uma guerra das províncias ultramarinas ou guerra colonial (tanto faz, guerra é guerra, podem crer), por onde passou cerca de um milhão de cidadãos portugueses, havendo dezenas de corpos de militares ali falecidos e abandonados, por não haver dinheiro para os trasladar;

Bom, a lista seria infindável, digo eu, e creio que isto já basta para explicar o meu ponto de vista.

Não, não somos Ingovernáveis!

Somos até muito condescendentes, tolerantes e humildes. Veja-se, em comparação, o que se está a passar com o governo de Gordon Brown, o que sucedeu na Grécia e as greves do ensino superior em França.

A ingovernabilidade só existirá se os deputados não tiverem sentido de Estado e se envolverem em tricas por objectivos como luta por lugares privilegiados, benefícios e prebendas imorais, salários e mordomias injusticáveis, favorecimentos ilegítimos para o nosso nível de vida, coisas que, aliás, os deputados e os políticos, tanto quanto eu saiba, na generalidade, não fazem. Só não percebo muito bem porque não conseguiram ainda substituir o Provedor de Justiça mas foram capazes de se entender sobre a lei do financiamento dos partidos. Mas, se bem compreendi o que disse o Presidente da Assembleia da República, ele próprio também vê alguma estranheza nesta disparidade.

0 Comments:

Post a Comment