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Dunas do Erg Chebbi

4º dia, 5.Abril.2010, segunda-feira

Voltámos à última parte do percurso do dia anterior para ver as Gargantas do Dadès, porque quando por lá passámos era já noite cerrada. Não faltaram as fotografias aos hercúleos jipes e ao destemido grupo de aventureiros. A passagem do rio entre as colossais paredes escarpadas de pedra é tão estreita que só resta o espaço suficiente para o curso de água e uma estreita estrada. Parámos ainda no ponto mais alto da montanha para ver a estrada sinuosa descendente, o rio lá em baixo e, muito ao fundo, o hotel onde ficámos, encaixado na parte final da garganta.

Todos precisavam de pôr combustível e, nas bombas das localidades próximas, o gasóleo estava esgotado. Só o Susuki Jimny, a gasolina, ficou saciado. Depois da transferência de algum gasóleo para o Defender do Samuel, mantivemos a rota para o Erg Chebbi, a 310 quilómetros, na expectativa de que mais à frente todos poderíamos atestar, e assim foi, em Tinerhir. Fizemos um pequeno desvio no percurso para ver também as Gargantas do Todra. As obras na estrada e na edificação de equipamentos turísticos proliferavam, assim como as barraquinhas de vendas. Numa das gigantes paredes verticais destas gargantas, alguns corajosos faziam escalada. Na viagem para retomar a rota para o Erg, um jipe Toyota marroquino, em alta velocidade e numa condução completamente inconsciente, partiu o espelho retrovisor do Defender do Alvarinhas. O acesso às gargantas é estreito e é feito por uma tirinha de alcatrão, esfarelada nas bermas, que os marroquinos nunca abandonam, ladeada por uma parede de pedra e o rio ou por um precipício e construções.

Apanhámos a estrada para Ar-Rachidia, a cidade onde mora o nosso guia Ali, que abandonámos depois para atalhar por Erfoud, em direcção ao Erg Chebbi. Poucos montes, muitas planícies áridas e, de quando em quando, uma vasta zona de palmeiras e uma aldeia. A rodovia parecia uma recta sem fim. Parámos a meio caminho para almoçar, quando foi possível encontrar uma sumária sombra, desta vez sem nos acomodarmos devidamente para não falharmos as dezasseis horas, hora a que íamos ter a fantástica experiência de viajar de camelo. Não corria uma aragem e a temperatura elevava-se aos 34º.

Deixámos a estrada e atravessámos uma área totalmente deserta que nos fez tomar consciência que estávamos no mais mítico deserto do mundo, o Sahara. Para onde quer que se olhasse, até ao horizonte só vislumbrávamos planície deserta, pedras, areia e pó. A trepidação era tanta que faróis, antenas de rádio, grelhas de tejadilho, se iam soltando. Lá muito ao longe, começaram a desenhar-se algumas dunas e, depois de um troço com areia solta, finalmente chegámos ao Hotel Auberge du Sud, próximo de Merzouga, situado na orla do Erg Chebbi, grande área de deserto com as mais altas dunas de areia de todo o Sudoeste de África, formadas pelo vento.

Fomos recebidos na sala principal com o habitual chá quente e amendoins. Apenas tivemos tempo para preparar os sacos-cama, um agasalho, água, as máquinas fotográficas e lá fomos, cada um no seu dromedário (porque têm apenas uma bossa), organizados em grupos de cinco ou seis animais ligados por uma corda, cada grupo guiado por um berbere que caminhava à nossa frente.

Depois de uma hora e meia muito divertida, em que contámos apenas com a boa disposição de todos, no percurso de dromedário, essencialmente pela crista das dunas, mas incluindo algumas subidas e decidas, estas últimas mais turbulentas, chegámos ao acampamento berbere. As tendas encontravam-se no sopé de uma duna enorme e formavam um quadrado fechado com apenas uma entrada. O meio, parcialmente atapetado, era o local de convívio. Uma das tendas destinava-se às refeições. Jantámos sopa de cuscuz, tajine de frango, laranja e, sempre, muito chá quente.

Contámos histórias, ouvimos os testemunhos deliciosos do Ali, tocámos tambores, dançámos, cantámos, os berberes actuaram também para nós. Dormimos em tendas para seis, alguns ao relento, nos tapetes centrais, contemplando o céu estrelado e a noite amena e acolhedora. Perante uma aventura tão avassaladora, os cuidados com a higiene pessoal e o conforto civilizacional foram totalmente dispensados.


Atlas


Atlas - 3200m


Uma porta do Sahara


A caminho do Erg Chebbi

Dromedário

1 Comment:

  1. R de Rui said...
    Que se lixe o mau cheirinho. Foi, de certeza, uma viagem deslumbrante que deixará aos seus participantes memórias históricas para contar aos netos. E a pituitária habitua-se a tudo, deixem lá. Estou a gostar!

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