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Deixemos o sonho viver….

Tomou posse o homem que passará a ser um dos mais poderosos do Mundo. E, com a sua atitude, o seu envolvimento, a sinceridade que aparenta, a capacidade retórica e, acima de tudo, com a sensibilidade que tem para os problemas do cidadão comum, conseguiu criar uma nuvem de sonho nos Estados Unidos, suportada por cerca de 70 % dos seus concidadãos. E, porque não dizê-lo, por muitos seres humanos em todo o planeta que acreditam, querem acreditar, que tudo vai ser melhor com este Presidente.

Logicamente que o seu novo estilo de fazer política, face ao sucesso que apresentou, vai ser copiado e utilizado também por muitos políticos nas suas campanhas eleitorais.

Em Portugal já ouvimos falar em “Mudança” palavra chave de Obama (Change, Yes we can). E também ouvimos dizer que “vamos baixar os impostos da classe média”, o que vai no mesmo sentido da conversa de Joe “the plumber” com Obama, em que este lhe terá dito que se ele ganhava menos de 250 000 dls anuais poderia ficar descansado que os impostos não se alteravam.

E numa coisa tão simples se vê a diferença entre o original e a cópia – um assume-se claramente com um número definitivo - outro refugia-se em duas palavras lodosas – classe média. Mas o que é isso da classe média? Eu ganho 10 000 € anuais sou classe média? E eu, com 30 000 € também sou? Ou eu com 100 000 € o que acham? Quando e quem nos vai dizer o que é isso da classe média para baixar os impostos?

Também em Portugal, na minha geração, se viveu este tipo de sonho, de euforia solidária, de liberdade e de capacidade de erguermos uma Nação num esforço conjunto. Já lá vão quase 35 anos e posso garantir que foi lindo. Um sonho mesmo porque todos acreditámos na generosidade do Homem. Infelizmente não durou muito tempo. A ganância, a avidez pelo poder e pelos bens materiais destruíram-no rapidamente. E, neste momento, talvez sejamos o País da Europa com o maior fosso entre ricos e pobres o que, pessoalmente, me deixa envergonhado porque considero que o povo, ao qual pertenço, não conseguiu agir de modo a obrigar à correcção dessas injustiças sociais e deixou resvalar para a pobreza um número muito elevado dos seus concidadãos

Portanto, deixem-nos viver este novo sonho de que o Mundo vai mudar para melhor e para todos ou quase todos. E esperemos não acordar amanhã e saber que Obama aumentou, lá na terra dele, o IVA para 21 % com a justificação de que não sabia que isto estava assim tão mal. Não é por nada, mas eu gosto de sonhar, e ter esperança nas pessoas ainda faz parte dos meus anseios. Mesmo que tenha de ser alguém que pouco ou nada tenha a ver com o meu País.

3 Comments:

  1. António Santos said...
    Rui, penso que estás certo enquanto continuas a sonhar... pelo menos, já todos acordamos do pesadelo do Texas.
    Não devemos desperdiçar o impacto verdadeiramente positivo que Barack Obama está a provocar em todo mundo ao nível das áreas que dinamizam as relações humanas. É evidente que não chegou o “salvador”, que vai haver lugar para a desilusão, mas não deixa de ser um desafio, conseguir-mos aproveitar esta forte energia e direcciona-la num só sentido, o sentido da responsabilização política dos cinco ou seis que mandam neste mundo sem rumo e havido de um caminho... o caminho da solidariedade!
    "Yes we can" !
    R de Rui said...
    Não, não é só isso, António. Para além da solidariedade há a reconquista de aspectos como a valorização do trabalho considerado como função inerente à condição humana, a recusa de ser sinónimo de sucesso o facto de se ganhar muito dinheiro, o fazer-se as coisas bem feitas, com honestidade e transparência, o recusar do lobismo excessivo e o controle dos presentes (e os anglo-saxónicos e os nórdicos até têm isso bem mais definido que nós, os povos meridionais), o cumprimento das leis e outros aspectos que não cabem num comentário. Julgo que todo este conjunto de qualidades estará muito relacionado com a educação que terá tido no campo religioso, para além, claro, da sua inteligência e capacidade de trabalho.
    António Santos said...
    Sem duvida!
    Embora continue a pensar que os valores que referes farão mais sentido se os seus longos braços “abraçarem o mundo”. Concordo com a valorização do trabalho (percebo a dimensão verdadeiramente humana que invocas), concordo com a honestidade e transparência nas actividades socio-económicas, com a valorização do esforço em detrimento da imagem sem sustento, mas o que não podemos aceitar é continuar-mos a assistir, “em lugar marcado”, a pessoas que nascem em campos de refugiados e lá passam uma vida e agora que são avós, não têm uma profissão para ensinarem os seus netos, porque simplesmente nunca tiveram, a vida que nós convencionamos como normal, e a terra, embora sintam que têm pátria... temo que os problemas económicos que agravaram os sociais nos EUA o tornem demasiado proteccionista e voltado para dentro, “esquecendo-se” destes e outros povos que continuam a “carregar” com a indiferença de “todos nós”!

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